Da bipolaridade ou uma época "montanha-russa"

A época que findou com a excelente vitória do Sporting na Taça de Portugal pode dizer-se, com alguma certeza, que foi atípica, sendo que, no que respeita ao campeonato, com excepção do Porto e do Guimarães, todos os clubes foram manifestamente irregulares. Atípica não pelos nomes dos vencedores das competições, mas pela facilidade e pelo número de pontos de avanço escandaloso com que o Porto acabou o campeonato. Irregularidade, e focando os clubes que se qualificaram para a Europa, pela escassez de pontos quando comparados com anos anteriores.

Perante este cenário, como podemos situar a prestação do Sporting? Para proceder a tal tarefa, cumpre discernir entre a qualidade exibicional demonstrada e os resultados obtidos, embora,na maioria das vezes, estes sejam consequência daquela.

É opinião maioritária, mesmo no universo sportinguista, que este foi um ano negro em termos de futebol praticado. Com raras excepções, o nosso futebol foi sempre monótono, passivo, desprovido de agressividade, muitas vezes, feio. A isto acresceu ainda uma grande falta de atitude e uma mentalidade nada ambiciosa, em clara contradição com a história do nosso clube. Paulo Bento justificou o mau rendimento, em especial no campeonato, pela ausência de "identidade" na equipa. A chegada de vários jogadores desconhecedores do que é o Sporting e do que é o futebol português e a saída de jogadores com características opostas, redundou na irregularidade. E na pobreza futebolística, digo eu.

Embora parece contraditório com o que se acaba de referir, parece-me que, em termos gerais, a época acaba por não ser totalmente negativa, em virtude da vitória na Supertaça e na Taça. E logo contra o tricampeão....Isto é, embora Paulo Bento não tenha logrado a tal "identidade" e não tenha conseguido colocar a equipa a jogar como na época transacta, esta foi suficientemente forte para vencer troféus e, não menos relevante, para fazer uma carreira bastante aceitável em termos europeus.

O Sporting 2007/2008 foi, pois, capaz do melhor e do pior, de momentos entusiasmantes (poucos, mas, ainda assim, existiram) e de momentos exasperantes, de vitórias heróicas e de derrotas humilhantes. Perante esta "bipolaridade" da equipa, como é que o adepto do Sporting se terá sentido? Será que a "bipolaridade da equipa"passou para a massa associativa?

A questão fulcral, no meu entender, é perceber se o Sporting do futuro (não o Sporting da próxima época mas das próximas épocas) será um Sporting sustentado, vencedor e agregador. É que, por mais campanhas de marketing, por mais iniciativas pioneiras no campo da comunicação, por mais instalações desportivas de qualidade que se tenha, o que o verdadeiro adepto pretende é, no final de cada jogo, sentir que o seu dinheiro foi bem empregue (ou nem sequer pensar nisso,seria bom sinal), pois assistiu à SUA equipa, viu um bom jogo de futebol e a SUA equipa ganhou. Só as vitórias poderão recuperar tantos adeptos mergulhados na depressão dos números (a economia portugal também não ajuda, é certo) e cativar novos adeptos em momentos de euforia ou estabilidade. É este o rumo que pretendo para o Sporting, era esta ambição dos fundadores do Clube.

Os altos e baixos no futebol, como na vida, devem ser encarados como situações normais. E no futebol, como na vida, não se pode vencer sempre. Contudo, se existir uma base sólida e uma mentalidade ganhadora, as situações de crise serão mais facilmente superáveis e os momentos de alegria tenderão a aumentar e a vontade de superação será uma constante. É um clube assim que eu quero.