OS VISCONDES

Reflectir o Sporting e a Nação à moda antiga

terça-feira, abril 22, 2008

Paulo Bento: a análise

Paulo Bento é hoje um treinador contestado, um treinador desgastado, um treinador que manifestamente já não tem lugar no Sporting.

Dois anos e meio após a sua entrada para a equipa técnica do Sporting, passa-se de seguida à análise daquilo que foi o "reinado" de Paulo Bento:

1.ª Época (2005/2006)
Paulo Bento assume uma equipa em falência, frustrada e desgastada pelas críticas dos adeptos e da comunicação social.

O final de época 2004/2005 (derrota no campeonato e na uefa) tinha sido mortal para esta equipa que, apesar dos talentos, apresenta-se sem motivação e com um treinador desrespeitado por jogadores e adeptos, incapaz de se impor.

Só um abalo pode alterar as coisas. Peseiro sai e Paulo Bento entra, então como solução provisória.

Paulo Bento, tal como qualquer adepto sem necessidade de grande conhecimento de futebol, percebe que um dos problemas tácticos está na forma como a equipa aborda o jogo defensivo. O Sporting marca 1, mas sofre 2, marca 2, mas sofre 3, e assim sucessivamente.

Identificado o problema, trancas à porta. O Sporting passa a jogar com imensas cautelas defensivas, jogando inclusivamente nalguns jogos com dois trincos (custódio e moutinho).

Declara-se o fim do futebol espectáculo, com a célebre declaração de Paulo Bento "quem quer espectáculo que vá ao alvalaxia".

Os adeptos, fartos de maus resultados, aderem à máxima, até porque a equipa deixa de sofrer golos (foi a equipa que mais tempo esteve sem sofrer golos na época 2005/2006).

Por seu turno, a contestação desaparece. Paulo Bento é querido pelos Sportinguistas, é um exemplo de profissionalismo e, mesmo nos resultados menos conseguidos, a tolerância impera nos adeptos.

Com o sector defensivo calibrado e com a inspiração de Liedson, acabamos a época em 2.º lugar a sete pontos do campeão fcp.

O facto de termos vencido o slb na corrida da champions faz Paulo Bento passar de solução temporária a treinador promessa.

2.º Época (2006/2007)
A primeira época preparada por Paulo Bento.

A equipa encontra-se motivada pelo bom fim de época e conta nas fileiras com um jogador a romper e com nome de estrela: Nani.

Na primeira volta, o Sporting ganha 11 jogos, empata 2 (um deles com o porto ) e perde 2 (com o paços - no célebre jogo da "mão de ronny" - e com o slb)...

No balanço da primeira volta, o Sporting é uma equipa com regularidade e consistência exibicional. Os jogadores encaixam perfeitamente no losango. Nani é o maestro, Moutinho o homem do leme e Veloso aparece como um jogador cada vez mais fundamental.

Mas nem tudo são rosas: Carlos Martins é um problema, Liedson não marca e sente-se que a equipa está presa a um sistema de jogo que dá mau futebol e vitórias sofridas e tangênciais (das 11 vitórias, apenas 4 são por mais de 1 golo). Acresce que o Sporting não logrou atingir a taça uefa em detrimento do fraquinho Spartak de Moscovo.

Iniciada a segunda volta, 5 jogos, apenas 1 vitória. O Sporting joga mal e não ganha. A crise de Liedson agudiza-se.

Os adeptos começam a perder alguma calma, quando, de forma completamente inesperada, surge uma vitória no dragão (golo de Tello) que relança o Sporting na corrida do título.

A vitória galvaniza o plantel, os adeptos e o Sporting arranca para um final de campeonato espectacular, com 5 vitórias consecutivas, apenas travadas na luz. Criticou-se a falta de ambição do Sporting na luz, mas faltavam 3 jogos e o Porto, irregular, fazia-nos acreditar no título e motivava a equipa.

Os últimos 3 jogos correspondem a 3 vitórias. A 45 minutos do fim do campeonato o Sporting era campeão, mas o Porto consegue vencer o desportivo das aves na 2.ª parte e celebra o título.

O Sporting termina a época em 2.º, a 1 ponto do Porto.

A equipa acaba a época em ombros com a vitória na taça de Portugal. O final de época quase de sonho empolga os adeptos.

Os maus momentos ficam para trás, as fragilidade tácticas demonstradas são esquecidas e Paulo Bento, com um discurso arrojado, com uma personalidade forte e apoiado pelos resultados, é agora uma certeza e um ícone do Sporting, confirmado pela célebre rábula dos gato fedorento "com tranquilidade".

3.ª Época (2007/2008)
Depois do fim de época alucinante, esperava-se que fosse a época de todas as conquistas.

Contudo, a época começa com uma sangria de jogadores valiosos. Nani ruma a Manchester, Carlos Martins ruma a Huelva, Tello engana a direcção e vai para a Turquia, Caneira regressa a Valência e Ricardo sai para o Bétis.

O Sporting procura colmatar as saída e, com o beneplácito de Paulo Bento, entram Vukcevic, Izmailov, Purovic, Stojkovic, Pedro Silva e Derlei.

A vitória na supertaça, no arranque da época, faz-nos acreditar.

A memória fresca desta época, dispensa-me de relembrar o que aconteceu depois...

De um modo geral, neste campeonato, que acaba daqui por 3 jornadas, o Sporting venceu 13 jogos, empatou 7 e perdeu 7. Jogos sem interesse, onde o mau futebol imperou... Sempre! Nos jogos fora, o Sporting tem a bonita soma de 3 vitórias (até o naval tem mais), 4 empates e 7 derrotas.

Os bons resultados em casa (apenas 3 empates e 0 derrotas), a supertaça, os quartos de final da taça uefa e as finais da taça da liga e da taça de Portugal evitaram grandes contestações à equipa e ao treinador.

Contudo, se pensarmos bem nos sorrisos desta época:
- chegámos aos quartos da uefa com vitórias sobre o miserável Bolton e o desconhecido Basileia, sendo que fomos eliminados por um rangers ao nível de qualquer paços de ferreira;
- Ganhámos a Supertaça com uma chouriçada do Izmailov, num jogo dominado pelo Porto;
- Chegámos à final da taça da liga sem brilho, depois de uma eliminatória sofrida com o fátima e de uma fase de grupos com adversários de segundo escalão;
- Chegámos à final da taça de Portugal com a sorte do século, num daqueles jogos que só acontece de 10 em 10 anos.

A época foi péssima e Paulo Bento revelou-se um treinador limitado e incapaz de apresentar alternativas a um losango previsível, desajustado e caduco.

Paulo Bento é o exemplo máximo da célebre história de "o Rei vai Nu", na qual o Rei julga desfilar trajado com as mais sumptuosas vestes, quando, na verdade, vai nu...

O problema é que, neste caso, não foi só o "Rei" que julgava estar "vestido". Direcção e adeptos viram em Paulo Bento o Fergusson do Sporting, viram um grande treinador, quando, no fundo, estávamos apenas perante um treinador em formação, limitado e sem a experiência e qualidade necessárias para comandar a equipa do Sporting.

Hoje, ao fim de 2 anos e meio à frente do Sporting, o reino de Paulo Bento tem de chegar ao fim, sob pena de a próxima época se revelar mais um fracasso.

8 Comments:

At 6:44 da tarde, Blogger MGF said...

Dr!

Como te disse,em geral concordo com a tua análise que qualifico de quase perfeita.
Quase,por duas ordens de razões:
1. Entendo que o modelo de jogo preconizado por Paulo Bento já está esgotado e corroboro da opinião que a qualidade do nosso futebol na actual época tem sido uma miséria. Contudo,também dou todo o mérito à forma como vencemos o Porto (com sorte, é verdade) para a Supertaça e como jogámos em especial na Liga do Campeões.Tudo o resto foi um deserto.
2. Bem sei que o objecto do post é o Paulo Bento,mas considerando que PB e Soares Franco(na qualidade de representante da direcção e responsável máximo do clube) constituem quase uma "unidade orgânica",não consigo deixar de falar na (falta) de liderança no Sporting.Será que Paulo Bento com um plantel melhor teria feito melhor?Não sei.Mas inclino-me para a positiva. Será que era possível fazer melhor com o actual plantel?Claro que era. Mas será que o Sporting tem condições (e porque não,estatuto) para ter um treinador já formado,experiente e com provas dadas?Desconfio que não.E,mais importante ainda,será que o problema do Sporting não só esta época, mas também nas últimas vinte,é o treinador(os treinadores)?Tenho a certeza que não!

 
At 6:56 da tarde, Blogger PSN said...

Ilustre,

Quanto ao 1.º ponto, custa-me reconhecer, mas face à época que fizemos só posso concluir que a vitória na supertaça foi o denominado bambúrrio...

Quanto ao 2.º ponto, como bem disseste, não está em causa a análise à direcção que ficará para os próximos dias.

Contudo, ainda assim, discordo qunto à possibilidade de o Sporting poder arranjar um treinador melhor. Qualquer Jorge Jesus, Inácio ou Boloni, treinadores ao alcance do Sporting, conseguiriam melhores resultados.

Quanto às últimas 20 épocas, recordo que tivémos grandes treinadores, mas, por diversas razões, nem sempre tivémos sucesso.

Robson, Queiroz, Marinho Perez, Mirko Jozik são exemplos de bons treinadores que passaram pelo Sporting, mas com sucesso limitado ou em razão do plantel, ou em razão do maior poderio das outras equipas, ou em razão das arbitragens, ou, pura e simplesmente, em razão da sorte.

 
At 7:05 da tarde, Blogger MGF said...

Sinceramente,não acredito muito nos treinadores que enumeras como hipóteses.Entendo que para sair Paulo Bento,deve entrar alguém com carisma e cujo curriculum o coloque acima de qualquer suspeita e a coberto de eventuais percalços iniciais.
Por outro lado,registo que concordas comigo.O problema do Sporting não é nem nunca foi a qualidade dos treinadores (alguns dos que referes são acima da média).O problema é estrutural, é a perda contínua e progressiva de influência em termos futebolísticos no panorama nacional e inetrnacional que urge inverter.

 
At 7:11 da tarde, Blogger MP said...

Um excelente resumo dos últimos 3 anos. Podemos dele retirar o seguinte: o Sporting foi capaz do bom e do mau. Ou seja, Paulo Bento, pelos vistos, tb foi capaz do bom, para além do unanimemente reconhecido mau.

O que não consigo perceber totalmente é: o PB das boas 2 primeiras épocas não é o mesmo da última? Ou seja, no Verão de 2007, PB passou a ser limitado tacticamente, deixou de ter personalidade e discurso ambicioso, e mudou o seu penteado e guarda-roupa para pior?

E outra coisa que não percebo:
o Robson poe a equipa a jogar bem e a ganhar... é despedido; o queirós e metódico e tem uma grande equipa... é despedido; o Inácio ganha uma campeonato 16 anos depois... é despedido; Boloni faz uma época de sonho... e é despedido; Peseiro leva o Sporting à final da UEFA... e é despedido; seguir-se-à o PB, que em 3 anos nunca falha a champions (espero), ganha 2 taças (espero) e 1 supertaça e... é despedido?

Julgo que às vezes se sobrevaloriza a influencia dos treinadores no desfecho de uma época. O futebol é um conjunto de pequenas partes e de variáveis (entre as quais a sorte), onde mesmo que se tenha o melhor de uma coisa (os melhores jogadores; o melhor relvado; o melhor treinador; o melhor dpt de comunicação)... isso não significa nada individualmente.

Posto isto, e paradoxalmente, tb acho que o PB já n tem provavelmente condições de continuar... mas preocupa-me muito que o discurso da cúpula dirigente dá a entender que PB não sairá, e se assim fôr começaremos a época com um treinador fragilizadíssimo, com o pescoço no cepo, que cairá ao menor deslize. Ou seja, ou mudam de ideias (e aí têm que mudar JÀ, antes que deixem de haver bons treinadores disponíveis, e para que um destes venha com tempo para preparar a época como deve ser), ou estar a queimar o treinador da época 2008/2009 antes dela começar é um tiro no pé... de bazooka.

 
At 7:28 da tarde, Blogger PSN said...

Grande MP,

Da análise eu retiro sobretudo que as duas boas épocas do Sporting são fruto da existência de jogadores adequados ao losango e da injecção de moral que reconhecidamente Paulo Bento deu.

Mas não esqueçamos que nem tudo foram rosas nessas 2 épocas. Houve contestação na 2.ª época e o campeonato é perdido com cinco empates ridículos e com falta de ousadia na luz perante um slb de rastos.

Quanto ao facto de se despedir PB agora, apesar de eventualmente conseguir 3 champions e 2 taças (o que eu não acredito), o Sporting não luta por estes objectivos, mas sim pelo título.

PB teve 2 épocas para vencer e não conseguiu.

O problema não é os resultados eventualmente menos maus que PB conseguiu. O problema é sentir que com PB nós não conseguiremos nunca vencer o título.

Quando qualquer Vitor Oliveira nos dá um banho táctico...

 
At 8:09 da tarde, Blogger MP said...

Muito bem, eu concordo que ele não tem provavelmente condições para continuar. Mas como digo, há que tomar essa decisão já (espero que já tenha sido tomada), revelá-la depois da taça (eu ainda acreditom nem que seja à chouriçada), e começar já á procura.

O problema é: procurar onde? quem é que estás a ver a cumprir os critérios do MGF: " alguém com carisma e cujo curriculum o coloque acima de qualquer suspeita e a coberto de eventuais percalços iniciais"?

É que ir buscar um treinador virgem ao campeonato português, raramente dá frutos imediatos; ir reciclar um, é praticamente impossível, pois todos têm anticorpos; e apostar num nacional nem pensar nisso, pois esses não cumprem o critério base do estarem acima de todas as suspeitas.

Um quebra-cabeças!

 
At 11:13 da tarde, Blogger Armando Silva said...

Excelente analise amigo, retrata com exactidão tudo o que tem sido o percurso do nosso técnico... Infelizmente é como diz, na época de todas as expectativas o nosso Sporting caiu da forma mais vergonhosa dolorosa possivel...

Assim não dá...

Cumprimentos

 
At 3:58 da tarde, Blogger Visconde said...

O resumo espelha bem o reinado de PB à frente do Sporting.
Na minha opinião ele foi fundamental numa coisa, ao impor disciplina, embora neste momento já a confunda com teimosia e isso tem vindo a prejudicar o Sporting.
Infelizmente teremos mais um ano de losango e futebol deprimente, isto porque PB só sairá quando SF sair, ou seja, no final da próxima época. A falta de ambição do treinador é partilhada pelo Presidente.
Até lá resta-nos rezar que se mantenham as pedras base da equipa e venham 2/3 jogadores de qualidade que consigam galvanizar a equipa para niveis elevados e nos permitam alcançar algo mais que o já gasto 2º lugar.

Abraço leonino

 

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