Escola de talentos

Prospecção, condições de trabalho, acompanhamento, aposta. Numa palavra: competência.

Assim se pode caracterizar o futebol de formação do Sporting.

Se dúvidas houvesse, o jogo de ontem da selecção nacional serviria para as dissipar: Simão e Cristiano Ronaldo passearam, uma vez mais, toda a sua classe, fazendo uma demonstração categórica do que é a escola de Alvalade.

Como sportinguista, regozijo-me por verificar que somos, efectivamente, o primeiro clube português, e estarmos entre os primeiros a nível mundial, no que respeita à "produção" de jogadores de grande nível. Veja-se ontem na selecção: os referidos Simão e Ronaldo, além de Miguel, Moutinho, Carlos Martins e Quaresma! Já para não falar dos ausentes, por diversos motivos, como Figo, Caneira, Nani, Nuno Valente ou Hugo Viana. E porque não falar do futuro em que, provavelmente, se inserirão Veloso, Djaló, Varela ou Custódio?

Sendo inequívoca a nossa superioridade neste capítulo, esta é, anualmente, comprovada pelas sucessivas vitórias nos campeonatos dos vários escalões de formação e pelo aparecimento na equipa principal de atletas com capacidades para se imporem de imediato como profissionais num grande clube.

Ora, se existe uma superioridade tão evidente na formação, porque é que o mesmo não sucede nos seniores?

Entre outras razões circunstanciais, porque não houve uma política sustentada, no sentido de uma aposta declarada nos jovens (ainda que com raras e honrosas excepções, como no tempo de Carlos queirós) , em detrimento da compra de jogadores desconhecidos, muitas vezes de qualidade mais que duvidosa.

Porque o Sporting não se soube adaptar à nova realidade decorrente do Acórdão Bosman, não oferecendo contratos longos a jogadores com margem de progressão.

Porque, embora por vezes tenha feito tudo o que lhe era possível, não pôde obstar à supremacia financeira de outros clubes.

A actual direcção interpretou os sinais e definiu que a base para o futebol são os jogadores da casa que todos os anos sobem ao plantel principal, comprometendo-se a "segurá-los" o máximo de tempo possível, com vista, fundamentalmente, a três objectivos: dotar a equipa de futebol de uma identidade e de um estilo de jogo próprios, investir na cultura de clube (essencial em termos de balneário) e transferir os jogadores em momentos oportunos e por valores adequados.

Creio que esta é a política certa a seguir. Fico satisfeito quando vejo uma equipa praticamente formada em Alvalade a dominar um colosso como o Inter de Milão. Agora só falta "aguentar" o João Moutinho e o Nani por, pelo menos, mais dois anos, e vê-los transferidos para grandes clubes e por elevadas quantias, salvaguardando a posição do Sporting em eventuais regressos ao futebol português.

É a máquina de talentos em pleno funcionamento.