Discursos
A propósito do clássico de ontem, e tendo em conta a velha máxima de José Mourinho de que o jogo se inicia na conferência de imprensa de antevisão e apenas termina no final da conferência de imprensa de apreciação do jogo, verifiquei o seguinte:
Tratando-se de treinadores de gerações distintas e com concepções e estilos de jogo nem sempre coincidentes, Jesualdo Ferreira e Paulo Bento distanciaram-se em especial no discurso.
Antes do jogo:
Um, apresentou um discurso aparentemente sereno, confiante, organizado, no sentido da valorização do colectivo em detrimento do indivíduo (vide lesão de Anderson).
Outro foi mais incisivo, mais arrojado, mais agressivo, no bom sentido. Sem subterfúgios (derrota com o Bayern, menos tempo de recuperação), sem hesitações, dirigiu todas as atenções para um só objectivo: ganhar, sempre.
Após o jogo:
Um transpareceu satisfação e alívio, não conseguiu esconder que acabou por ser um bom resultado, embora, dizendo que, naquela casa o empate é sempre um resultado ?magro?. Sem chama, sem energia, sem força. O espelho do que é como treinador e, presumivelmente, como pessoa. Não cabe aqui criticar Jesualdo, cabe sim realçar que os adeptos portistas não se revêem neste tipo de discurso, neste tipo de treinador, neste tipo de pessoa. Quem pode esquecer figuras tão marcantes como António Oliveira, Octávio Machado ou José Mourinho, os quais, cada um à sua maneira, faziam da guerrilha constante e do conflito permanente uma das armas do FCP? Como se percebe, não se questiona a competência técnica de Jesualdo Ferreira, mas será que um treinador com o seu perfil terá algum futuro no clube, pelo menos enquanto Pinto da Costa se mantiver na presidência? Tenho as minhas dúvidas.
Por seu lado, Paulo Bento foi fiel às suas características: directo, frontal, concreto, objectivo. Foi um mau resultado, ponto final. Fomos superiores, dominámos quase todo o tempo, como contra o Bayern, mas voltámos a perder pontos. Trata-se, pois, de um pensamento linear, facilmente apreensível. A mensagem está lá estampada: o caminho é este, falta agora maior eficácia na finalização. Quando foi preciso, foi irónico (arbitragem habilidosa de Pedro Poença e de um dos seus auxiliares), quando foi preciso, defendeu intransigentemente a sua dama (Liedson é intocável, lembrando um pouco a defesa de Mourinho em relação a Shevchenko no Chelsea).
Os menos teóricos nestas coisas do futebol dir-me-ão que são aspectos laterais, que quem decide os jogos são os jogadores, que o que interessa são os golos, podendo mesmo apontar-me múltiplos exemplos em que treinadores da escola de Jesualdo foram vencedores. Aceito tal perspectiva.
Contudo, tenho o direito de preferir ter alguém à frente da minha equipa que me inspire confiança, que me motive, que, por vezes, exprima as minhas revoltas e as minhas desilusões, alguém que viva o futebol com paixão, sem deixar que a mesma lhe retire o discernimento para saber tomar decisões correctas. No fundo, alguém com quem me identifique.
Podia citar outros treinadores, mas com Paulo Bento eu identifico-me, pelo menos com o seu discurso.
Tratando-se de treinadores de gerações distintas e com concepções e estilos de jogo nem sempre coincidentes, Jesualdo Ferreira e Paulo Bento distanciaram-se em especial no discurso.
Antes do jogo:
Um, apresentou um discurso aparentemente sereno, confiante, organizado, no sentido da valorização do colectivo em detrimento do indivíduo (vide lesão de Anderson).
Outro foi mais incisivo, mais arrojado, mais agressivo, no bom sentido. Sem subterfúgios (derrota com o Bayern, menos tempo de recuperação), sem hesitações, dirigiu todas as atenções para um só objectivo: ganhar, sempre.
Após o jogo:
Um transpareceu satisfação e alívio, não conseguiu esconder que acabou por ser um bom resultado, embora, dizendo que, naquela casa o empate é sempre um resultado ?magro?. Sem chama, sem energia, sem força. O espelho do que é como treinador e, presumivelmente, como pessoa. Não cabe aqui criticar Jesualdo, cabe sim realçar que os adeptos portistas não se revêem neste tipo de discurso, neste tipo de treinador, neste tipo de pessoa. Quem pode esquecer figuras tão marcantes como António Oliveira, Octávio Machado ou José Mourinho, os quais, cada um à sua maneira, faziam da guerrilha constante e do conflito permanente uma das armas do FCP? Como se percebe, não se questiona a competência técnica de Jesualdo Ferreira, mas será que um treinador com o seu perfil terá algum futuro no clube, pelo menos enquanto Pinto da Costa se mantiver na presidência? Tenho as minhas dúvidas.
Por seu lado, Paulo Bento foi fiel às suas características: directo, frontal, concreto, objectivo. Foi um mau resultado, ponto final. Fomos superiores, dominámos quase todo o tempo, como contra o Bayern, mas voltámos a perder pontos. Trata-se, pois, de um pensamento linear, facilmente apreensível. A mensagem está lá estampada: o caminho é este, falta agora maior eficácia na finalização. Quando foi preciso, foi irónico (arbitragem habilidosa de Pedro Poença e de um dos seus auxiliares), quando foi preciso, defendeu intransigentemente a sua dama (Liedson é intocável, lembrando um pouco a defesa de Mourinho em relação a Shevchenko no Chelsea).
Os menos teóricos nestas coisas do futebol dir-me-ão que são aspectos laterais, que quem decide os jogos são os jogadores, que o que interessa são os golos, podendo mesmo apontar-me múltiplos exemplos em que treinadores da escola de Jesualdo foram vencedores. Aceito tal perspectiva.
Contudo, tenho o direito de preferir ter alguém à frente da minha equipa que me inspire confiança, que me motive, que, por vezes, exprima as minhas revoltas e as minhas desilusões, alguém que viva o futebol com paixão, sem deixar que a mesma lhe retire o discernimento para saber tomar decisões correctas. No fundo, alguém com quem me identifique.
Podia citar outros treinadores, mas com Paulo Bento eu identifico-me, pelo menos com o seu discurso.
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