Espectáculo versus Eficácia
Quem tem acompanhado os últimos jogos do Sporting depara-se com uma evidente realidade: o Sporting ganha os jogos (quando os árbitros decidem não intervir), mas não proporciona grandes espectáculos de futebol.
Ontem à noite, frente ao Leiria, essa realidade ficou bem patente. O jogo teve períodos de grande tédio, mas, no final, a vitória, mais uma vez, sorriu-nos, não merecendo a mínima contestação (salvo certos e determinados palermas - vide post "O Choramingas", da autoria do Visconde MGF).
Os adeptos gostam, mas não ficam plenamente saciados, porquanto um dos grandes ingredientes da paixão pelo futebol é, sem dúvida, a sua beleza.
Se, enquanto adepto e sócio do Sporting, as vitórias são mais que suficientes para recompensar a minha devoção, enquanto amante do futebol confesso que gostaria de ver o Sporting apresentar um futebol mais bonito.
Podiamos entrar agora na velha discussão das tácticas e dos sistemas de jogo do Sporting, mas, a meu ver, o facto de o Sporting não produzir, de uma forma regular, um futebol aprazível, prende-se, sobretudo, com a filosofia que impera no balneário desde a chegada de Paulo Bento.
Com efeito, o Sporting tem, neste momento, uma equipa que joga com esforço e dedicação - à imagem da grande máxima - e que faz, em muito, lembrar o Sporting de Inácio que ia para dentro de campo "comer a relva" e "carregar o piano". A diferença está no facto de este Sporting ser mais jovem e muito mais talentoso e de Paulo Bento ser muito melhor treinador que Inácio. Não obstante as importantes diferenças, a filosofia que subjaz aos dois modelos de jogo é a mesma: dar tudo, privilegiando o colectivo sobre o individual.
Os bons resultados que têm surgido, desde que Paulo Bento tomou conta da equipa, revelam, sobretudo, uma extrema eficácia, reflexo de uma capacidade de sofrimento, paciência e frieza assinaláveis. Os bons resultados têm, ainda, um denominador comum: uma defesa sólida, praticamente impenetrável.
A verdade é que o tempo dos "anjinhos", equipa por todos elogiada, mas que perdia pontos infantilmente, acabou.
O Sporting é hoje em dia uma equipa séria, por vezes demasiado carrancuda, mas que tem um único objectivo em mente: a vitória. E quando estão em causa competições que envolvem, também, a solvência financeira dos clubes, a vitória não pode deixar de ser o único objectivo.
Por outro lado, os adeptos têm de perceber que para o Sporting se afirmar como grande clube internacional tem de cimentar a sua liderança a nível interno. La Palisse diria agora "e para cimentar a liderança é preciso ganhar". E Paulo Bento diz "ganhar, ainda que se abdique de alguma qualidade futebolística".
Na verdade, esta dicotomia não tem uma solução imediata. Com efeito, reconheço que, tendo em conta todas as condicionantes (e.g. orçamento reduzido, idade dos jogadores, quantidade de jogos efectuados), para ganhar de uma forma regular, o Sporting não pode, neste momento, apresentar, de uma forma, igualmente, regular, um futebol fantástico.
E perante esta dicotomia, e a ter de escolher, opto, sem hesitar, pelas vitórias.
A qualidade virá depois, de uma forma natural, com o sucesso desportivo, com a afirmação internacional e, necessariamente, com os milhões da Champions.
Assim, enquanto o Sporting for ganhando, eu digo, citando o nosso mister: "quem quer espectáculo que vá ao Alvaláxia!"
2 Comments:
Assino por baixo. Nem mais nem menos.
PS: Excelente texto! Claro como água!
Spin-off de posts?
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