25 anos de sócio

Amanhã, serei uma das 1376 pessoas que irão receber a medalha de 25 anos de sócio do Sporting Clube de Portugal.

Foi no dia 13 de Setembro de 1982 que o meu querido pai me inscreveu, então à minha revelia (tendo em conta os meus dois anos e meio), mas hoje com a minha ratificação, como sócio do Sporting Clube de Portugal.

Olhando para trás, foi muito o tempo que passou. São quase tantos anos de sócio como de vida. Para além da minha família, apenas o Sporting consegue estar há tanto tempo na minha vida.

Passei por diversas escolas, pela faculdade, por empregos, fiz amigos, aderi a modas, ouvi músicas, viajei, tive namoradas e paixões, desgostos e frustrações. Tudo passou, mas só o Sporting foi comum e transversal a todos os acontecimentos que preencheram a minha vida.

Com o Sporting vivi muitas vitórias e alegrias, mas também muitas derrotas e desgostos.

Nestes 25 anos:
- Vi o Sporting ganhar 2 campeonatos, naquilo que foi expoente máximo da minha vivência clubística.
- Vi Futres, Figos, Ronaldos, Quaresmas, Simões, Nanis, Moutinhos e Velosos, de qualidade internacional, serem formados nas escolas do Sporting.
- Vi o Sporting construir um estádio à sua dimensão, que me encheu de orgulho.
- Vi o Sporting golear o benfica, nosso rival de sempre, por 7-1, o que me deu um gozo especial e que será sempre uma pedra de arremesso contra a arrogância encarnada.
- Vi o Sporting chegar a uma final da taça uefa, que me fez chorar.
- Vi Carlos Lopes sagrar-se campeão olímpico da maratona, que me arrepiou.
- Vi o Sporting vencer campeonatos e taças europeias de hóquei em patins.
- Vi o Sporting ganhar campeonatos nacionais de basquetebol e voleibol.
- Vi Fernando Mamede, Naide Gomes, Obikuelo e Carlos Calado em inúmeras conquistas nacionais e internacionais.

- Mas também vi 23 anos em que o campeonato de futebol não passou de uma miragem.
- Vi inúmeras derrotas internacionais em futebol, aos pés das mais impensáveis equipas, as quais nem sequer consigo pronunciar o nome (gençlerbirligi, grassophers, viking, etc.).
- Vi as modalidades amadoras serem extintas, por vezes da forma mais cruel, encostando-se os sócios à parede numa escolha de Salomão.
- Vi e vejo o atletismo num impasse, sem pista para treinar.
- Vi o Sporting ser goleado 3-6 pelo benfica, humilhação inultrapassável.
- Vi dirigentes incompentes, sem capacidade de equilibrar as finanças do clube, esbanjadores e sem visão.
- Vi jogadores enormes saírem do clube por falta de um projecto.
- Vi treinadores incapazes.
- Vi a falta de crença na face dos meus correligionários, reflexo do cansaço de anos de apoio com pouco ou nenhum retorno.

Infelizmente, sou obrigado a constatar que o saldo é negativo. O Sporting perdeu, nestes 25 anos, expressão popular, perdeu a sua mística, perdeu a força do ecletismo, perdeu a pujança que tinha no início da década de oitenta.

Em 1982, o Sporting era o clube com maior número de modalidades. Era, com larga vantagem, o 2.º clube com mais títulos em futebol e o 2.º clube com mais adeptos. Hoje, o Sporting é o terceiro a todos estes níveis e arrisca-se a ser ultrapassado pelo surgimento de novas potências nacionais como o Guimarães, Braga e Setúbal.

No que diz respeito especificamente ao futebol, que é o motor e dínamo dos clubes, o Sporting foi, nestes 25 anos, um mero actor secundário.

Neste quarto de século, benfica (17 títulos) e porto (38 títulos) saquearam e dividiram entre si os trofeus nacionais, deixando para o Sporting pequenas migalhas, que se resumem a 2 campeonatos, 3 taças de Portugal e 4 supertaças (9 títulos). A nível internacional, o benfica esteve presente em 3 finais e o porto em 8, vencendo 6. O Sporting esteve presente numa única final.

Em 25 anos, é manifestamente muito pouco, para um clube que tinha a pretensão de ser “tão grande como os maiores da Europa”.

Se o Sporting quer seguir a máxima do seu fundador, precisa de se afirmar, precisa de conquistar, precisa de se fazer ouvir, precisa de inverter o estaticismo do fracasso e o conformismo da derrota, precisa de dirigentes que amem o clube e o futebol, que tenham visão, que tenham paixão.

O que vejo hoje, 25 anos após a dádiva clubística do meu pai, é um Sporting a esvaziar todos os seus ideais de esforço, dedicação, devoção e glória. Um Sporting preso aos bancos, sem estratégia, sem ideias, conformado.

Contudo, apesar dos 25 anos despojados de conquista no futebol e de declínio nas modalidades amadoras, nunca abandonei o clube. Estive, estou e estarei sempre com o Sporting, nos bons e nos maus momentos. Mas esta fidelidade pode acabar quando a minha geração desaparecer, quando desaparecerem aqueles que nasceram há mais de 25 anos na esperança de um Sporting ganhador.

Há 50 anos, o Belenenses era o terceiro clube nacional. Hoje é uma sombra do seu passado. Não quero que daqui por 50 anos o Sporting seja o Belenenses de hoje. Não quero que daqui por 50 anos o Sporting seja um pequeno clube de meio da tabela da Liga Portuguesa. Não quero que daqui por 50 anos os meus netos se equipem de encarnado ou azul. Não quero que daqui por 50 anos a força que uma vez o Sporting foi, seja uma mera reminiscência ténue de um passado longínquo.

Espero, por isso, que a mística que me fez apaixonar pelo Sporting regresse. Espero que os próximos 25 anos sejam de conquista, vitória e glória, mas para isso o Sporting precisa de visão, de arrojo e de ambição.

Espero que, daqui por 25 anos, nas vésperas de receber a medalha dos 50 anos de sócio, fale de 25 anos de vitórias, de conquistas, de alegrias e de glória.

Como sempre, acredito e acreditarei num futuro melhor, ou não fosse eu do Sporting Clube de Portugal!

Força Sporting!